No Brasil, existem poucas pesquisas e séries históricas divulgadas sobre o perfil de consumo de rádio AM/FM, especialmente em relação aos dispositivos usados e hábitos digitais dos ouvintes. Por outro lado, nos Estados Unidos, há uma grande quantidade de dados com informações abrangentes sobre o perfil de consumo do rádio. Assim, embora o mercado americano não reflita diretamente a realidade brasileira, com o devido cuidado, as tendências observadas por lá podem servir como referência para tentar inferir os caminhos que o rádio pode seguir nos próximos anos por aqui.
Este é o caso da análise publicada no blog da Audacy – baseada na pesquisa trimestral Share of Ear, conduzida no mercado americano pela Edison Research – que destaca as mudanças significativas nos hábitos de consumo de rádio nos últimos anos e as diferenças entre as gerações.
Os dados indicam que as smart speakers permanecem como o principal dispositivo digital para o acesso ao streaming de rádios AM/FM nos Estados Unidos. No entanto, outros aparelhos vêm ganhando espaço, especialmente as TVs conectadas, impulsionadas pelo público mais jovem. Desde 2020, o tempo de escuta via smart speakers aumentou 73%, enquanto o das TVs conectadas cresceu 23% e o dos celulares avançou de forma mais modesta, em 8%. Em contraste, a audiência em computadores e notebooks caiu 31% no mesmo período.

O crescimento no digital reflete tanto o conforto da escuta em casa quanto a popularização dos assistentes de voz. Campanhas de emissoras americanas, que incentivam o público a “pedir para a smart speaker tocar a rádio”, contribuíram para que a audiência se expandisse até entre as gerações mais velhas, que hoje adotam com naturalidade os dispositivos conectados.
A análise por geração mostra que os Boomers (61-79 anos) lideram a escuta em smart speakers, representando 38% do total de minutos, seguidos pela Geração X (45-60 anos) (36%). Os Millennials (29-44 anos) somam 17%, enquanto a Geração Z (13-28 anos) responde por 9%.
Nos computadores, a Geração X ainda é predominante, com 53% do tempo total de escuta, reflexo de um hábito consolidado em ambientes de trabalho. Millennials aparecem com 23%, Boomers com 13% e Gen Z com 11%.
Entre os ouvintes mais jovens, no entanto, a preferência se volta às TVs conectadas. A Geração Z responde por 38% da escuta de AM/FM nesse formato, superando ligeiramente a Geração X (37%). Boomers e Millennials ficam mais atrás, com 14% e 11%, respectivamente. Os dados da Edison sugerem que esse comportamento está ligado ao consumo de áudio em ambientes compartilhados, onde a TV funciona como um centro de entretenimento.
No celular, as diferenças entre gerações são menores: Boomers (30%), Gen X (29%) e Gen Z (27%) apresentam índices próximos, enquanto os Millennials somam 14%. Os dados reforçam que o mobile segue como um ponto de acesso universal, mas estabilizado em crescimento.

Vale observar que o consumo de conteúdo de áudio digital está diretamente ligado à base de dispositivos disponíveis para os ouvintes – e à forma como essa base evolui ao longo do tempo. A pesquisa Infinite Dial, também da Edison Research, é um bom termômetro dessa dinâmica e mostra, sem surpresas, que a penetração dos smartphones já atingiu um ponto de saturação no mercado americano, alcançando 91% da população com 12 anos ou mais. As smart speakers também parecem ter chegado a um patamar de estabilidade, com presença em 35% desse público. Porém, o dado que mais chama atenção é o avanço das TVs conectadas, cuja penetração saltou de 61% em 2021 para 75% em 2025 – um crescimento que representa uma oportunidade estratégica para quem produz conteúdo de áudio.
Nesse cenário de transformação tecnológica e multiplicidade de dispositivos, a forma de ouvir rádio está se diversificando, tornando-se cada vez mais integrada aos ecossistemas digitais das casas e dos dispositivos móveis. Hoje, o conteúdo pode ser acessado de maneira linear ou sob demanda, em diferentes plataformas, proporcionando ao ouvinte uma experiência contínua e flexível – que se ajusta à rotina diária e o acompanha em qualquer hora e lugar. E, ainda que os números no Brasil não sejam exatamente os mesmos do mercado americano, é razoável admitir que essa é uma tendência global em curso, que também se reflete entre os ouvintes brasileiros.
*Fonte: ZyDigital