Programação infantil se fortalece na internet na era da mídia fragmentada

Foto: Propmark/Reprodução

Nas décadas de 1980 e 1990, as principais emissoras tinham faixa da manhã dedicada às crianças; hoje, apostam suas fichas no meio digital

Talvez não seja exagero dizer que a programação infantil na TV brasileira viveu a sua ‘era de ouro’ nos idos dos anos 1980 e 1990. E não se trata de nenhuma vertente possível de saudosismo, mas se você viveu a infância nesses anos, certamente, entenderá.

À época, Globo, SBT, Cultura e a extinta Manchete disputavam a atenção dos pequenos com programas que misturavam música, brincadeiras, quadros de auditório e desenhos animados, apresentados por nomes que todos conhecem: Xuxa, Angélica, Mara Maravilha e Eliana marcaram gerações inteiras, transformando as manhãs da TV aberta em um território de encantamento.

A força desses programas não se restringia ao entretenimento. Eles movimentavam a indústria de brinquedos, influenciavam o consumo e ajudavam a consolidar a lógica do “merchandising infantil” na TV. As faixas matutinas garantiam audiência expressiva e grandes patrocínios, criando um ecossistema comercial robusto em torno da infância televisiva.

Mas, entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000, esse cenário começou a mudar. A chegada dos canais pagos especializados, a crescente regulamentação sobre publicidade dirigida a crianças e a fragmentação da audiência com a internet reduziram o espaço da programação infantil na TV aberta.

Aos poucos, os programas de auditório e os blocos de desenhos foram substituídos por noticiários e variedades, marcando o início de um processo de esvaziamento que mudaria para sempre a relação entre as novas gerações e a televisão.

Para Eliza Casadei, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Práticas do Consumo da ESPM, trata-se de um caminho sem volta.

“A TV aberta perdeu o protagonismo na formação do repertório infantil. Isso ocorreu por uma conjunção de fatores, como o fato de que crianças e famílias hoje vivem em ambientes midiáticos fragmentados”, diz.

“O ‘Clube da Xuxa’ ou os programas da Angélica representavam uma experiência compartilhada que reunia grande parte das crianças em torno de um mesmo conteúdo”, completa.

Miguel Valione, coordenador dos cursos de comunicação da Anhembi Morumbi, concorda e acrescenta que a criança de hoje está condicionada a ter o entretenimento na palma das mãos, a hora que quiser. Diferentemente das crianças das décadas de 1980 e 1990.

“O entretenimento infantil daquele período respeitava uma grade de programação, com horário específico, ou seja, a criança daquela década estava condicionada a assistir o que queria, mas somente no horário estipulado.”

Fernando Justus Fischer, superintendente de negócios e comercialização do SBT (Foto: Divulgação)

Na TV aberta, o SBT é a emissora que ainda aposta na programação infantil. Superintendente de negócios e comercialização da empresa, Fernando Justus Fischer destaca que o canal nunca abandonou essa parcela do público.

“Nós não desistimos de provar que é possível promover uma programação infantil sustentável, responsável e de qualidade. E estamos certos de que temos o apoio do público e do mercado publicitário nessa aposta”, conta.

*Fonte: Propmark

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