Imagem: Reprodução/By Cast
Diante do avanço da inteligência artificial, muitos se perguntam se os locutores de rádio, especialmente de emissoras musicais, estão com seus empregos ameaçados. O recente caso envolvendo Reinaldo Azevedo, que, durante sua licença médica, pôde manter seus comentários transmitidos pela BandNews FM graças a gravações geradas por IA a partir da sua voz, reforçou esse debate sobre o futuro do rádio e dos comunicadores.
Há quem tema que, no futuro, nenhum talento humano seja mais necessário. Afinal, se qualquer locução pode ser gerada por inteligência artificial, com um nível de naturalidade que cresce dia após dia e com um custo cada vez mais baixo, por que haveria necessidade de se manter um comunicador humano no ar?
O valor dos comunicadores para a audiência
Para mostrar que, sim, profissionais de microfone são extremamente importantes para as emissoras, basta olhar para os dados do relatório Techsurvey 2025. A pesquisa, realizada entre 8 de janeiro e 9 de fevereiro deste ano no Canadá e nos Estados Unidos, aponta locutores, DJs e programas entre os principais motivos para ouvir rádio, ficando até a frente da música. Em 2025, 61% dizem que a sintonia se deve aos talentos do rádio, contra 56% que mencionam músicas ou artistas favoritos.
Essa preferência não é recente: desde 2019, as personalidades ultrapassaram a música como razão principal para escutar rádio e vêm mantendo essa posição ano após ano. Além disso, metade dos ouvintes gostaria de ter contato direto com seus apresentadores favoritos fora do ar, seja em eventos ou na comunidade. Entre os mais jovens, esse desejo é ainda maior: 64% na geração Z e nos millennials, o que ressalta a importância das vozes humanas no rádio.
A inteligência artificial já ocupa espaço no ar e continuará crescendo, isso é inegável e inevitável. Mas, diante desse avanço, torna-se ainda mais necessário que rádios e profissionais reforcem um dos maiores diferenciais humanos: a personalidade. Essa característica é fruto de experiências de vida únicas e irrepetíveis que ainda não podem ser reproduzidas por algoritmos.
Comunicadores que vão além do básico e, a partir da empatia, conseguem criar laços de confiança com a audiência não podem ser simplesmente substituídos por uma simulação tecnológica, por mais sofisticada que seja. O público de rádio não busca apenas uma dicção perfeita, mas alguém que entenda seu cotidiano, compartilhe sentimentos e reaja ao vivo de forma genuína a acontecimentos inesperados.
O peso comercial das vozes humanas
Essa singularidade dos apresentadores e radialistas também tem peso decisivo no mercado publicitário. Marcas procuram associar suas campanhas a comunicadores que carregam credibilidade, carisma e influência, atributos construídos ao longo de trajetórias pessoais, desenvolvidas por gente de carne e osso.
Além disso, sem entrar no mérito se isso é bom ou ruim para as emissoras, é fato que muitos locutores também atuam como contatos comerciais, mantendo suas próprias carteiras de clientes e contribuindo diretamente para o faturamento. Isso mostra que a relevância dos comunicadores não se limita à audiência conquistada: seu impacto financeiro é parte da engrenagem que movimenta o rádio enquanto negócio.
A tecnologia tende a se consolidar como ferramenta complementar, mas não como substituta daqueles profissionais que realmente se diferenciam no ar. A inteligência artificial amplia a produtividade, facilita processos, oferece soluções criativas e reduz despesas, mas não elimina o papel humano da dinâmica do rádio. Quanto mais avançada for a IA, mais valiosa se tornará a presença de comunicadores que entregam algo insubstituível: o relacionamento autêntico e verdadeiro com o público.
Fernando Morgado — Consultor e palestrante com experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios

Fernando Morgado via tudoradio.com