Se há uma palavra que deveria estar afixada na porta de todos os estúdios de rádio do Brasil, ela é: pontualidade. Não como uma sugestão. Mas como um valor inegociável da boa comunicação.
O que é pontualidade?
De acordo com a definição apresentada pela FM2S Educação, com base em estudos da Universidade de San Diego, a pontualidade é a capacidade de cumprir prazos e horários com regularidade, sendo percebida socialmente como sinônimo de confiabilidade e profissionalismo. Trata-se, em essência, de um hábito cultivado que demonstra respeito pelo tempo alheio e organização pessoal e coletiva.
Como reforça o artigo “A importância da pontualidade”, publicado no jornal A Razão (2023), ser pontual é uma forma de tornar a vida mais produtiva, menos instável, e se tornar alguém mais digno de confiança e apreço. Em outras palavras, quem é pontual transmite respeito e responsabilidade. Quem não é, transmite desorganização e descaso.
No rádio, a pontualidade tem outro peso
Quando falamos de rádio, pontualidade não é apenas desejável. Ela é estratégica. É o que diferencia uma rádio comprometida de uma rádio amadora. É o que mantém o ouvinte fiel, o cliente satisfeito e a equipe alinhada.
O rádio, diferente de outros meios, é cronológico por essência. O ouvinte organiza sua rotina ouvindo rádio. Eu mesmo já observei ao longo da minha trajetória que muitos ouvintes usam o rádio como relógio. Eles esperam a previsão do tempo às 7h30 para saber se vão sair com guarda-chuva. Saem de casa depois da vinheta do jornal das 8h. Alguns esperam ouvir o quadro de horóscopo, o boletim de trânsito ou mesmo a música-tema de um programa antes de tomar uma decisão prática do seu dia.
Se você, comunicador, atrasa 3 minutos, é possível que seu ouvinte atrase 3 minutos também. E isso não é um exagero. É parte da construção de confiança que o rádio estabelece. Eu sempre reforço em treinamentos e consultorias que a pontualidade dos boletins, programas e quadros fixos é um ritual de credibilidade. Se a emissora não entrega na hora certa, o ouvinte para de contar com ela.
Se o rádio é amigo, ele tem que se comportar como tal.
Nós, radialistas, vivemos dizendo que o rádio é amigo do ouvinte. E aqui está uma verdade difícil, mas necessária. Ninguém gosta de um amigo que não é pontual.
Quando o rádio promete ao seu amigo ouvinte que um programa começa às 8 horas da manhã em ponto, ele está firmando um compromisso relacional. Está dizendo que ele pode contar com você naquele horário.
E conforme aponta a análise comportamental publicada no portal Global Navigator (2023), a pontualidade nas amizades é um indicativo de respeito mútuo e consideração pelo tempo do outro. Quando você atrasa meia hora para encontrar um amigo, o que você fez foi roubar 30 minutos da vida dele. Você não se preocupou se ele ficaria bem ali esperando, se ele tinha outra tarefa em seguida, se aquele tempo seria útil ou desperdiçado.
O mesmo vale para o rádio. Quando o programa atrasa, a previsão do tempo não entra, o quadro se estica, o break comercial não vem no horário, o rádio está falhando como amigo.
Se queremos que o ouvinte continue confiando no rádio como companhia, como referência, como rotina, o mínimo que podemos oferecer é o respeito ao tempo dele. E isso vale tanto para o ouvinte quanto para o cliente. O rádio é amigo de ambos. E bons amigos não furam horário.
Pontualidade também é respeito ao cliente.
Quando um patrocinador contrata um comercial para ser veiculado às 12h em ponto, ele pensou estrategicamente nisso. Pensou no pico de audiência, pensou na sincronização com a rotina dos ouvintes, pensou em estar presente naquele exato minuto em que o ouvinte está com o rádio ligado.
Se essa entrega ocorre às 12h03, o que se quebra ali não é só o contrato. Quebra-se a lógica da mídia, o respeito à inteligência do anunciante e sim, a credibilidade comercial da emissora.
E esse não é um caso hipotético. Já testemunhei casos em que grandes agências e órgãos governamentais suspenderam pagamentos porque a rádio não respeitou o horário contratado para os spots publicitários.
Pontualidade, portanto, também é questão de faturamento. Quem não respeita horário, não respeita o cliente.
“Ah, mas o prefeito estava falando…”
Esse tipo de justificativa é comum nas emissoras locais. Não consegui terminar o programa no horário porque o prefeito estava no estúdio. A entrevista se estendeu demais. Esse argumento não se sustenta.
Na minha visão, um bom jornalista sabe conduzir uma entrevista com tempo delimitado. Seja em 1 minuto ou em 10. Assim como um bom apresentador de televisão sabe que precisa encerrar antes do break, o rádio também precisa aprender a se posicionar. Educação, clareza e firmeza bastam para que qualquer entrevistado, inclusive o prefeito, compreenda os limites do tempo.
Quando uma entrevista avança demais e engole o horário do próximo programa, não é só o break que se perde. Perde-se o respeito pelo colega do próximo horário. Perde-se o ritmo da emissora. Perde-se o controle.
A cultura do atraso no rádio precisa acabar.
“É só três minutinhos”. Não. Não é normal atrasar.
A cultura da tolerância ao atraso precisa ser banida do rádio profissional. Atrasos por causa do tempo da música? Planeje melhor sua grade. Atrasos porque o break era longo? Ajuste a minutagem. Atrasos porque não deu tempo? Refaça o cronograma.
Emissoras de rede, com dezenas de afiliadas, conseguem ser pontuais no segundo. Por que uma emissora local não conseguiria?
Como mostra o estudo da Stackscale Tech (2023), ao analisar os sinais horários da BBC de Londres, transmitir a hora exata por décadas fez com que o rádio se tornasse símbolo de precisão, confiança e organização social. Isso não é tradição. É compromisso.
Pontualidade é cultura, é posicionamento.
Pontualidade não é apenas uma questão de operação técnica. Ela é uma marca artística. Uma demonstração de respeito ao ouvinte, ao cliente e ao próprio time de trabalho.
Quando você atrasa, você comunica algo mesmo sem perceber.
Você diz que o seu tempo vale mais que o do ouvinte. Que o próximo programa que venha depois do seu pode esperar. Que o patrocinador vai entender.
Essa postura desconstrói a credibilidade da rádio. Como lembra o artigo da Pontotel (2024), empresas que não valorizam a pontualidade comprometem sua imagem profissional e sua produtividade como organização.
No rádio, isso é ainda mais grave. Compromete a reputação pública da emissora, a confiança do ouvinte e a permanência de anunciantes.
Conclusão
Pontualidade não é sobre relógio. É sobre respeito. Sobre credibilidade. Sobre faturamento. Sobre cultura profissional.
É hora de repensar os hábitos. Parar de inventar desculpas. E assumir a responsabilidade de conduzir um meio de comunicação que, mais do que nunca, precisa ser confiável, relevante e respeitoso com quem ouve e com quem investe.
Se o rádio quer continuar sendo amigo das pessoas, que comece sendo um amigo pontual.
Cristiano Stuani – Consultor de Marketing e professor universitário no curso de Administração de Empresas

*Informações: tudoradio.com