A transformação da economia global de mídia e entretenimento, avaliada em US$ 1,1 trilhão em 2025, foi o tema central do painel “What is Hot in Media: How Retail Media, Strategic Partnerships, and AI are Reshaping the $1.1T Media Economy”, conduzido por Maria Rua Aguete, head de Mídia e Entretenimento da Omdia, durante o IBC 2025, em Amsterdã. A executiva apresentou dados inéditos sobre a evolução do streaming, a ascensão do retail media e o novo cenário de parcerias estratégicas entre players antes vistos como concorrentes diretos. Parcerias firmadas entre serviços de streaming para juntar forças e dados relacionados ao mercado brasileiro estiveram entre os pontos discutidos. O tudoradio.com cobre o IBC2025 direto da Holanda, com o apoio da AMIRT e outras entidades.
“Eu sempre odiei o termo guerra do streaming. Não são guerras, são parcerias, são amigos”, afirmou Maria. Para sustentar sua análise, ela mostrou que em 2025 já é comum ver grandes plataformas de streaming unidas a canais de televisão. “Não há brigas entre streamers e broadcasters. Há amor. As pessoas estão se unindo, estão fazendo o que sugerimos há muitos anos: parcerias”. O movimento, segundo a Omdia, atende a uma necessidade prática: a dificuldade de crescimento apenas com assinaturas e a busca por maior alcance e engajamento.
França e Reino Unido como exemplos
Na França, a Netflix firmou aliança com a TF1, enquanto a Amazon Prime Video se associou à France.tv. “No caso francês, a TF1 foi quem mais insistiu nesse relacionamento. Em nossas pesquisas, quando o público liga a TV, o primeiro serviço que busca é a Netflix, não a TF1. Ao se unir à plataforma, o canal conquista alcance, enquanto a Netflix ganha engajamento com conteúdo local”, destacou Maria.
O Reino Unido também aparece nesse cenário, com a ITV estabelecendo acordo com a Disney. “Cada streamer está encontrando parceiros. Não é só com broadcasters, mas também em esportes, eventos ao vivo e novos formatos”, completou.
Brasil aparece nos dados
Entre os mercados analisados, o Brasil ganhou destaque pelo consumo de múltiplos serviços. De acordo com a Omdia, cada usuário brasileiro mantém, em média, 2,6 serviços pagos de vídeo por assinatura (SVOD) e 7,3 opções gratuitas ou financiadas por publicidade (AVOD/FAST). Esse comportamento reforça a maturidade do modelo híbrido no país, em que o consumidor combina plataformas pagas e gratuitas para ampliar o acesso a conteúdo.
Os dados também revelam os dispositivos preferidos pelos brasileiros para acessar conteúdo em vídeo. No país, a liderança é dos smartphones da Samsung, enquanto em mercados como Reino Unido e Estados Unidos o iPhone ocupa o primeiro lugar. Já em países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, a audiência tende a distribuir o consumo entre televisores conectados e marcas locais, mostrando como as preferências de hardware influenciam diretamente as estratégias de distribuição.
Publicidade como motor de crescimento
Se os últimos cinco anos foram dominados pela expansão do SVOD, os próximos terão outro protagonista: a publicidade. “É muito difícil crescer apenas em SVOD agora. A oportunidade está na televisão conectada com publicidade”, afirmou a executiva. Nos Estados Unidos, por exemplo, já é comum que Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video mantenham camadas de assinatura com anúncios, ampliando a base de usuários e atraindo novos anunciantes.
Retail Media, o novo gigante da publicidade
Um dos pontos mais enfatizados no painel foi o retail media, classificado por Maria como o segmento de maior crescimento na publicidade global. “Pouca gente sabe o que é retail media, mas é simples. Quando você busca um produto e aparece um resultado patrocinado, isso é on site search. Quando vê um banner dentro de uma loja virtual, é on site display. Quando está em outro site ou aplicativo e aparece um anúncio que leva ao varejista, é offsite display. E quando vê publicidade dentro da loja física, é in-store display”, explicou.
O impacto econômico é significativo: até 2030, o setor deve movimentar US$ 300 bilhões, representando 20% de toda a publicidade mundial. Para efeito de comparação, os canais gratuitos de TV conectada (FAST) devem gerar cerca de US$ 11 bilhões no mesmo período. A executiva lembrou ainda que varejistas e broadcasters estão se aproximando, em um processo de convergência: “Os varejistas estão virando broadcasters e os broadcasters estão virando varejistas”.
Essa tendência se conecta ao avanço do shoppable TV, que permitirá ao consumidor comprar produtos diretamente da tela. O potencial é enorme: os gastos globais do consumidor online devem alcançar US$ 6,6 trilhões em 2029.
Convergência entre players
Ao concluir, Maria reforçou que o futuro da mídia passa pela convergência de modelos antes separados. “Os streamers estão se tornando como as antigas operadoras de TV paga: oferecem conteúdo premium, esportes, produções locais e até integração com varejo. É difícil competir com isso”, afirmou.
O painel no IBC 2025 consolidou a visão de que o setor de mídia caminha para uma fase em que cooperação, novas formas de monetização e inovação tecnológica serão tão importantes quanto o conteúdo em si. Para o público brasileiro, os dados revelam que a combinação de múltiplos serviços, o avanço da publicidade digital e as particularidades de consumo por dispositivos moldarão o futuro da audiência nos próximos anos.
*Informações: tudoradio.com